A
discussão sobre os direitos e deveres da criança e do adolescente são
constantes na sociedade. Às vezes, vale a pena uma reflexão sobre a ausência de
direitos dessa parcela da população ao
longo da história. Em alguns países da Europa, durante a Idade Média, as
crianças nem sempre tiveram o reconhecimento de que eram seres humanos em
formação, como acontece hoje na maioria
dos países. Segundo Philipe Ariès, em
seu livro “História social da criança e da família”, da editora LTC, havia
apenas um sentimento superficial com relação à criança, a que denominava-se
“paparicação”. A criança era considerada uma coisinha engraçadinha e as pessoas
se divertiam com a criança pequena como se fosse um animalzinho. Caso a criança
morresse, como era muito comum naquela época, alguns podiam ficar desolados,
mas a regra geral era não fazer muito caso. A ideia era que essa criança seria
logo substituída por outra. Com isso a criança não chegava a sair do anonimato
familiar.
Até
por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não tentava
representá-la. Posteriormente, a criança era representada como um homem em
escala reduzida. A criança era diferente do homem, mas apenas no tamanho e na
força, enquanto as outras características permaneciam iguais.
O
sentimento de indiferença com relação a uma infância demasiado frágil, em que a
possibilidade de perda era muito grande, no fundo não estava muito longe da
insensibilidade das sociedades romanas ou chinesas, que praticavam o abandono
das crianças recém-nascidas.
Na
Inglaterra, no século XV, as crianças eram mantidas na família de origem até a
idade de sete anos. A partir dessa idade
eram colocadas nas casas de outras pessoas para fazerem o serviço pesado, e lá
permaneciam até completarem entre 14 e 18 anos. Eram chamadas na época de
aprendizes e desenvolviam todas as
tarefas domésticas.
A
moral universal exige atualmente que diante de crianças os adultos evitem
qualquer comentário que não seja apropriado a elas, principalmente sobre assuntos sexuais. Ainda no século XVI não fazia o menor sentido
evitar qualquer comentário diante das crianças daquela época.
Ariès
chama a atenção para um fenômeno que persistiu até o fim do século XVII, o infanticídio
tolerado. A prática não era aceita, inclusive passível de severa punição. Porém, era praticado em segredo,
correntemente, sob a forma de um acidente. Crianças morriam asfixiadas
naturalmente na cama dos pais, onde dormiam. Nada se fazia para conservá-las ou
para salvá-las.